# 8 A Eutanásia é solução? | [RUBRICA VERDADE NUA & CRUA]
A Rubrica Verdade Nua & Crua deste mês de agosto tem a ver com um tema frágil, delicado e, na sua totalidade, está associado a sofrimento e tristeza.
" - Como é que o tinham deixado morrer?"
" - Será que ele não era demasiado novo para achar que já não tinha motivos para viver?"
Como encorajar alguém a viver depois de um acidente que a limitava a viver? E quando refiro viver, digo colocar em prática todos aqueles sonhos que estão guardados numa gaveta fechada e "ainda não tinha sido a altura certa para o fazer". Sonhos que gostaríamos de fazer antes de chegar o fim… O fim de um corpo imobilizado e, preso numa cama até chegar ao cansaço extremo…
Leo Mclnerney tinha 24 anos. Jogava futebol desde os seus 3 anos. O prazer de jogar futebol era tudo para ele. Tinha-se lesionado naquilo que eles chamavam "um acidente num milhão", "numa entrada que correu mal."
"Tinham feito tudo para o encorajar, para o fazer acreditar que a sua vida continuava a ter valor. Mas ele tinha entrado em depressão. Era um atleta que, além de ter perdido a capacidade atlética, tinha perdido a capacidade de se mexer. E, de vez em quando, nem sequer conseguia respirar sem ajuda. Não tirava qualquer prazer de nada."
Quem somos nós se não conseguirmos respirar sozinhos?
Quem somos nós a viver sem ter o prazer de … ?
"Tinha uma vida dolorosa, arruinada pelas infeções e dependente dos constantes cuidados de terceiros. Tinha saudades dos amigos, mas recusava vê-los. Disse à namorada que não a queria ver mais. Dizia todos os dias aos pais que não queria viver. Dizia-lhes que para ele era insuportável ver as outras pessoas a viver, mesmo que apenas com metade da excitação da vida que ele tinha planeado para si próprio, que isso era para ele uma espécie de tortura."
Até quando a vontade de um Ser Humano conta?
Trata-se de um suicídio? Ou quando alguém ajuda (cúmplice(s)), trata-se de um "homicídio"?
A justiça pode até pensar que por ter o corpo preso a uma cama que o cérebro não funciona. Ou que a vontade do individuo não é tida em conta.
Mas qual é o prazer quando de um momento para o outro somos obrigados a reestruturar os nossos sonhos por um maldito desvaneio?
Qual é o prazer continuar acordado sem ter vida própria?
Qual é o prazer de ter mil e uma pessoas a comandar a vida de outra?
Os sonhos terminam. A dificuldade aumenta no dia-a-dia. A mãe tem a carreira de sonho. O pai abandonou a família por vergonha e até fugiu com a amante lá do ginásio. A irmã não quer deixar de sair com as amigas. Até a empregada tinha planos após o horário de trabalho. E, a lista continuava, certamente, infelizmente.
E que fazia aquele corpo dependente de tudo e, a "incomodar" a vida de todos?
"Leo bebeu a mistura láctea de barbitúrico letal às 15h47 e os seus pais disseram que em poucos minutos mergulhara naquilo que parecia ser um sono profundo."
Por vezes o amor que sentimos pelo próximo dá-nos a capacidade de "aceitar" a infelicidade do outro e, deixá-lo ir. Mas, isto aplicar-se-ia numa relação conjugal… Em que a vida continua… E, quando se trata do próprio filho? É assim tão "fácil" aceitar o seu "último desejo"?
Sentir que o fruto que saiu dentro de nós tenha o seu "último desejo" de… morrer? Não puder olhar-lhe, beijá-lo, abraçá-lo, ouvir a sua voz, …
Como é doloroso só de pensar, meu Deus!
"Ele parecia em paz. É a única coisa a que me posso agarrar."
E a dor destes pais?
E a justiça atacar estes pais?
Eles só "realizaram" o "último pedido" do filho e não o deixaram sofrer mais. E a justiça ainda vem fazer reviver tudo… Sofrer em duplicado, triplicado, … Com aquilo que realmente nem sabe.
A dor, a raiva, a exaustão, … e ainda como se não bastasse a perda do filho, ainda teriam a preocupação da ameaça judicial.
"Finalmente, parecia de novo o Leo."
Neste tipo de situações…
Qual será o sentimento do lesionado/incapacitado?
Qual será o sentimento da família quando à aceitação da doença?
Como será para o doente viver com tantas limitações?
E a pena que as pessoas que o visitavam… Deveria ser tão… palpável e visível a olho nu?
Qual a decisão "justa" que teria peso na "balança"? O "último desejo" do doente ou dos laços familiares?
Este é um tema da atualidade baseada numa situação do livro Viver Depois de Ti de Jojo Moyes em que senti que não poderia deixar impune esta realidade. São inúmeras questões retóricas que, livrai-nos de um dia termos respostas para dar… É um conjunto de "Mas..." e de "Se..." nestes momentos.
É um Até Já?
Próximo artigo : Todos os dias do mês de agosto :)
Fonte: Viver depois de ti, Jojo Moyes (Situação)
Nos comentários poderá deixar a sua análise, sugestão ou crítica :)
No 12º ano quase fui mandada para a rua na aula de PT porque não fui capaz de me decidir ser contra ou a favor da eutanásia e não participei num debate que a prof criou.
ResponderEliminar7 anos depois ainda não consigo optar apenas por um lado.
Olá, Rita!
EliminarSim, o mais importante é o respeito na opinião dos outros, sem dúvida!
Beijinho